Podemos preencher os espaços à nossa volta com memórias, preencher conversas, preencher as nossas vidas, de modo a que o vazio que ficou no nosso coração passe despercebido aos nossos olhos... Porque no fundo trata-se sempre disso, que uns fazem melhor e outros fazem pior. Tentamos preencher desesperadamente o vazio que fica no nosso coração, sempre que saímos derrotados de mais um caminho na nossa vida. Ou sempre que tomámos uma decisão errada. Ou sempre que nos sentimos sós. Ou sempre que desejamos muito ser felizes e essa felicidade parece demorar tanto. Tentamos encontrar a beleza em coisas simples, nos nossos dias invariavelmente simples, para não nos lembrarmos sempre do vazio. Tentamos a todo o custo preenchê-lo, com conversas, passeios, livros ou pequenos momentos, para logo a seguir estarmos novamente a senti-lo. Ao vazio. E o difícil não é senti-lo. O difícil é sermos capazes, dia após dia, de o manter adormecido, distante, longe de nós, inventando mil e uma coisas que nos ocupem o pensamento, porque dói-nos o coração, é verdade, mas dói mais quando começamos a senti-lo aproximar-se. O vazio. E no fundo, no fundo, os dias mais bonitos da nossa vida, acabam por ser aqueles em que aprendemos a viver assim, a manter o vazio à distância, e até, como que por magia, começamos a sentirmo-nos menos vazios, mais aconchegados. E contamos os dias e as horas e os segundos para recebermos os dias em que não vamos mais precisar de manter o vazio à distância, porque ele por si só irá um dia embora.
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[daqui]